quinta-feira, 22 de março de 2007
Pesadelo nº1 - Morrer num sonho
foto:UNDERSCORE
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Aquel dia amencera tarde, penso que eram as onze quando o sol entrara no meu quarto. Tinha o feo costume de levantar as persianas o mais tarde possível. O móvel quedara-se sem bateria enquanto sonhava com naves extraterrestres na praia de Doninhos. A bexiga, farta de aguardar por mim, começava a exigir umha soluçom para sua falta de espaço. Caminho ao banheiro tropecei co despertador que semelhava andar polo chão à procura da sua bateria alcalina. Pensei em agachar-me a recolher os desperfeitos da batalha nocturna mas, de novo, a minha pelve advertiu-me da ordem de prioridades á que me devia limitar. No espelho do quarto de banho olhei pra minha cara desencaixada e recordei o que tinha acontecido na noite anterior. A imagem do Enrique com seu aspecto de pau seco a se desculpar por ter-me roubado nos dous últimos anos uns 1200 euros do meu salário. Tratava de convencer-me de que a culpa era minha por nom lhe pedir aumentos como fazia o resto do pessoal. Eu só pensava em sair do seu negocio antes de sentir ganas de bater-lhe na cabeça com umha cadeira. Fechei os olhos e o som dos líquidos em colisom devolveu-me ao banheiro. Sempre gostei do branco inmaculado dos azulejos, mas só à altura da vista. Olhando pra onde a parede fai fronteira co chão preferia nom pensar em cabelos soltos e salpicaduras. Som dessa clase de gente que só está a gosto na taça da sua casa. Abrim a bilha e afoguei a cabeça no lavabo aguardando que a auga borrara as sujas pegadas que as circunstâncias imprimiram-me na alma. Forom cinco segundos cheos de intensidade mental.... recordei a primeira vez que subira ao cenario na Festa Fim de Curso do parvulario, o dia que ganhara o concurso de redacçom do Dia das Letras Galegas, a excursom a Portugal no ano antes de ir ao Instituto bebendo Lacrima Christi, meu primeiro contacto sexual num hotel de Mallorca, a minha primeira raia no assento traseiro dum Renault 14, o dia que falaram de mim no jornal da vila, o meu primeiro concerto em Valadares ensinando-lhes o cú aos douscentos ionques e borrachos que ficavam fronte ao palco, o amor que perdera, os amigos que marcharam, a minha última conversa existencial, o meu trabalho sujo com Enrique, as minhas mãos afogando sua gorja,.... meus olhos fitarom pra o desaugador coa sua tampa posta. Tentei mover a cabeça pra sair da auga mais foi impossível duas mãos rijas apretavam-me contra o fundo do lavabo... cinco segundos, umha vida. Sentim o líquido a entrar no meu corpo, nos meus pulmons. Quêm era o que me forçava a afogar, quem era aquela sombra que me saudava no blanco da minha existência, que me convidava a unir-me na sua santa companha. Tantas perguntas tinha golpejando na mente que afrouxei os meus músculos e deixei de sentir, deixei de sofrer. Agora som luz e vos sodes reflexos sem luminosidade aguardando a vossa quenda. Aguardando o The End das preocupaçons, o fim das perguntas. Recuperei o alento, abrim os olhos. A noite ainda governava esta parte do mundo, respirei profundamente e pensei em levantar-me a beber auga no banheiro. Um calafrio me recordou o meu pesadelo e decidim ficar quentinho baixo a protecçom das minhas sabas. So fora um pesadelo mas nom tinha gana de tentar à minha sorte. O ceu começava a tinguir-se de azuis ao longe. O pior já tinha passado.
 
postado por Anónimo ás 17:25 | Permalink |


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